1 de outubro de 2009

A violência é para brincar... E só para isso.

Educar para a paz em meio a este mundo violento

Estamos assistindo, já desde algumas décadas, a um processo meteórico de aumento da violência no cotidiano da vida e das relações sociais. Hoje é normal, e infelizmente para muitos, emocionante, assistir ao vivo a dramas, tragédias, violência, morte... que acontecem em qualquer canto do mundo. As tecnologias nos aproximaram mais da realidade, possibilitando uma informação global em tempo real, mas também serviram para padronizar gostos, comportamentos e modas ...

O mundo urbano contemporâneo, com seu ritmo de vida frenético, com sua proposta de aproveitamento máximo de cada segundo para produzir materialmente e, desta forma, poder comprar depois. Este modelo de vida e de pessoa produz um altíssimo grau de frustração: todo o dia envolvidos por uma publicidade que alimenta ilimitadamente nossos desejos e a realidade que nos demonstra que não é possível ter tudo quanto se deseja. Esta frustração, somada ao estresse de quem tenta exprimir ao máximo os limites do real para satisfazer o maior número possível de desejos, acaba produzindo pessoas e sociedades à beira da paranóia. Frustração, estresse, individualismo, necessidade de satisfação imediata dos desejos, geram cotas imensas de agressividade que, quando não sabemos canalizar e transformar em impulso e força para a vida, facilmente se converte em violência (projetar em algo ou alguém a causa de minha frustração ou a solução aos meus problemas, descarregando contra ele minha agressividade).

Os comerciantes deste mundo, sempre ávidos de riqueza, descobriram que a violência atrai (seja exercida ou observada) para descarregar por meio dela a agressividade que nos asfixia e enjoa. A criança aprende a mexer com a violência por meio do jogo, da brincadeira, misturando muitas vezes o real com o imaginário. O próprio jogo vai ensinando onde estão os limites, se oferecendo como meio para descarregar a agressividade (inclusive de forma violenta) sem danificar ninguém. A violência é, e deveria ser, somente um elemento de jogo, irreal, ilusório. Infelizmente os interesses comerciais fizeram da violência um produto de mercado, de consumo. Estes, aliados às tecnologias, vêm criando uma grande confusão entre o real e o virtual, o experiencial e o ilusório, o desejo e sua satisfação. O mercado do desejo coloca na nossa frente a possibilidade de superar todas as nossas frustrações e complexos. Com um pouco de prática podemos ser chefes de uma facção mafiosa, heróis num conflito armado internacional, libertadores de uma nação ou, para quem não tem espírito altruísta, assassinos em série ou em massa, segundo o gosto do massacrador.

Neste mercado do desejo nada nos deixa satisfeitos, temos que inventar a cada dia uma nova “experiência extrema” que nos faça experimentar o risco, a emoção, a adrenalina saindo pelos poros da pele, para sentir que estamos vivos. A violência tem essa capacidade, nos colocando no limite da vida mesma (seja própria ou de outro ser), podendo “brincar” de sermos deuses, donos do último alento de vida de um ser. Ter na mão a capacidade e a possibilidade de decidir sobre algo realmente fascinante, tão grandioso e indefeso ao mesmo tempo, como é a vida de um ser.

Unamos agora os dados: seres frustrados e estressados, numa corrida louca por satisfazer imediatamente todos os desejos, incapazes de distinguir o real do imaginário, sem rumo nem projeto na vida fora da busca de emoções e experiências radicais que permitam estar “no limite”, dentro de um mercado global onde tudo se compra e se vende (também o outro), onde a violência é um produto a mais para consumo e onde com um simples clique posso virar deus... Pensando bem, é para sair correndo!

Ao contraio, é para assumir com mais força e responsabilidade nosso compromisso com a educação, desde um modelo de pessoa, de sociedade e de felicidade diferente. Acreditamos que a pessoa é muito mais que o que pode comprar, adquirir ou possuir. Acreditamos que a felicidade não se encontra no nível de consumo, mas na qualidade humana. Acreditamos que ser humano é ser irmão, não concorrente. Acreditamos que a vida vale a pena quando temos um horizonte e um sentido: o horizonte nos orienta e o sentido nos alenta. Acreditamos que pensar primeiro no outro nos faz perceber com uma ótica nova os problemas e necessidades próprias, sendo mais fácil relativizá-los e enfrentá-los. Acreditamos que a vida a serviço de um mundo melhor é mais interessante, emocionante e “extrema” que viver afogado pelos desejos e necessidades narcisistas. Queremos aproveitar este mundo global para educar uma “consciência global”, reconhecendo em cada ser humano meu irmão e minha irmã. Queremos fazer uso das tecnologias para nos aproximarmos mais do mundo, de suas maravilhas e de seus sofrimentos, não para fugir dele ou para criar nosso “mundo virtual” egocêntrico e narcisista. Queremos educar para a resolução pacífica dos conflitos, não para evitá-los, como meio que são para aprender a dialogar, a reconhecer a verdade que está no outro e a respeitar a dignidade de todo ser humano. Queremos mandar a violência de volta ao mundo irreal do jogo e da brincadeira, onde as armas depois viram o que de fato são: ferramentas de trabalho e estudo; e ninguém fica machucado pelas balas de ar e as bombas que só fazem barulho. Queremos educar na paz que nasce da não-violência ativa, da vivência de atitudes pacíficas e do compromisso com a causa da justiça.

Queremos fazer do Colégio São Miguel Arcanjo um lugar de convivência e diálogo, de solidariedade, de compromisso pela paz e a justiça, de inclusão e de fraternidade. Estamos sonhando? Pode ser... Alguns sonham que chegarão a serem ricos, famosos e poderosos (e acabam vivendo a mesma vida frustrada de todos); outros que poderão comprar todas as coisas que a publicidade lhes oferece (e acabam hipotecando a saúde física, mental e até a própria família) pensando que assim serão felizes; outros sonham ainda ser o centro do mundo, como se este existisse só para e por eles (e acabam se tornando escravos de sua própria ilusão). Já que todos sonhamos, sonhemos pelo menos alguma coisa diferente e interessante, um sonho que possa oferecer uma alternativa para não continuar repetindo erros, um sonho que ajude a mudar um pouquinho a realidade, um sonho que se transforme em horizonte e em sentido.

Jesus de Nazaré sonhou e sacrificou a vida por fazer o sonho acontecer. São José de Calasanz sonhou com o direito à educação para todas as crianças, independente do estrato social e econômico, hoje é uma conquista quase universal. O Colégio São Miguel bebe na/da herança de Jesus, de São Jose de Calasanz e de tantas pessoas que se entregaram por educar libertando para melhorar este mundo. Hoje essa responsabilidade está em nossas mãos. Que Deus nos ajude!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário