20 de novembro de 2009

Começamos? (nos aproximando do fim do ano letivo)

O fim deste ano letivo se aproxima (o tempo passa voando quando bem aproveitado), mas a nossa missão (evangelizar educando para transformar a sociedade e construir um mundo melhor) apenas está começando...

Educar é suscitar, descobrir e acompanhar o crescimento do melhor que cada pessoa leva dentro de si. A escola de hoje não pode renunciar ao desafio da integralidade de sua proposta educativa. Uma escola que instrua sem formar, que capacite sem ensinar a discernir, que preencha de conteúdos, esquecendo-se da pessoa toda, é uma escola destinada ao fracasso, talvez não da escola mesma, mas das pessoas que nela se formam e, principalmente, da sociedade que essas pessoas construirão.
Muito mais que uma profissão ou uma tarefa, educar é uma missão. O educador deve colocar a totalidade de seu ser (saberes, capacidades, atitudes, afetos, energias...) a serviço do seu labor. Ensinar ou, na pior das situações, instruir, é mais fácil e não exige tanto assim, mas ensinar é só uma pequenininha parte da ação educativa, que mais que ação é relação. Na educação, educador (seja professor, pai ou mãe) e educando se abrem a um relacionamento de aprendizagem mútuo, descobrindo novos desafios, procurando recursos adquiridos para enfrentá-los e desenvolvendo destrezas novas para superá-los. A relação educativa exige do educador uma disponibilidade que vai além do horário, do conteúdo, da estrutura física e do rol. Também do educando exige-se essa mesma disponibilidade para que possa embarcar com entusiasmo na aventura da vida. 
Educar tem muito a ver com o trabalho constante, despercebido e generoso do camponês. Com esforçado e paciente esmero, se colocam hoje as sementes que, se tudo der certo, algum dia germinarão e, quem sabe, até cheguem a dar fruto. Sem o sacrifício de hoje, às vezes cansativo e pouco valorizado, será impossível curtir amanhã as flores e frutos que, de tão belos, nos farão esquecer o esforço realizado. O educador sabe qual é a sua parte, que não é pequena nem insignificante, bem pelo contrário, mas também sabe e aceita que muitas coisas não dependem dele. Quem se entregou em cada pequena ação, cada pequeno gesto, cada pequena rotina, pode dormir tranquilo e com a consciência em paz... Mas quem pode afirmar que realmente entregou o melhor de si em cada pequena coisa que fez?
A relação educativa nos coloca a todos, educadores e educandos, diante de um grande desafio: transcender o momento presente (pessoal e social) para intuir um futuro melhor (seja próximo ou distante), aceitando o processo necessário para transformar a intuição em realidade ou, colocando as palavras em outra ordem, para deixar que a intuição transforme a realidade. Pode parecer complexo, mas, aprender não é isso mesmo? A aprendizagem começa por desejar uma experiência (seja um conceito, capacidade, destreza, atitude, logro...), inalcançável com os recursos pessoais que neste momento possuo, aceitando que tenho de realizar um esforço para desenvolver ou aumentar esses recursos (com novos conceitos, capacidades, destrezas, atitudes e logros) a fim de atingir o objetivo procurado, e realizando esse mesmo esforço. Podemos aplicar esta definição a uma operação matemática, à resolução de um problema ético ou à construção de um projeto de vida.
Tanto quem educa como quem é educado se coloca diante do dilema: ficar como está ou iniciar o processo de transformação para chegar a um futuro melhor, mais completo e feliz. Nossa verdadeira felicidade encontra-se no amanhã sonhado e desejado, e no processo de construção desse amanhã, nunca no presente limitado, imperfeito e fungível. A pessoa é um ser projetado (Heidegger), que encontra o sentido de sua vida no que está por descobrir e construir. Viver sem projetar a própria vida, conformando-se com o presente imediato, significa renunciar ao melhor de si mesmo, abdicar da própria humanização. Humanizamo-nos (tornamo-nos mais humanos) quando, olhando além da realidade imediata, descobrimos o que podemos chegar a ser e começamos a caminhar.
Retomando as ideias até agora expostas, nos atrevemos a afirmar: educa quem acredita que podemos ser muito melhores e mais felizes do que agora somos e, por isso, coloca toda sua vida a serviço daqueles que apenas estão começando a construir seu futuro, para, juntos, descobrir e desfrutar da felicidade que se encontra na autossuperação, no esforço por ser cada dia mais e melhor, na aventura de viver construindo o amanhã.
Acaba sim o ano letivo, o tempo do trabalho específico e intensivo, mas é agora que começa a aventura e o desafio da verdadeira educação: saberemos todos nós, educadores e educandos, aproveitar este ano que está acabando (com todos os esforços realizados, todas as propostas oferecidas e todos os problemas superados) para sermos pessoas mais plenas e humanas, para projetarmos num amanhã mais feliz e para começar a caminhar rumo a esse futuro melhor para todos? Saberemos viver nossa vida toda desde a missão que abraçamos, nos aventurando no mundo da transformação constante (minha, dos outros, da sociedade, do mundo...), da auto-superação, do inconformismo, da crítica construtiva e empática, da fraternidade solidária? 
Acabamos um ano letivo, mas a vida letiva continua e, para muitos (crianças, pré-adolescentes e adolescentes) apenas começa... Estamos dispostos a viver sempre começando com eles? 

6 de novembro de 2009

A escola de hoje e a necessidade da educação para a paz

Nos tempos atuais é normal ficar tristemente surpreso e revoltado pelos acontecimentos de violência que, cada vez mais frequentemente, acontecem na sociedade e, também, no âmbito escolar. Infelizmente, a violência faz parte da vida da gente. Será possível educar para a paz nesta sociedade violenta? Acreditamos que sim, mais não resolvendo problemas de violência, não com paliativos pedagógicos, mas oferecendo e operando desde a educação uma verdadeira transformação da pessoa e da sociedade que temos. Porque a violência que vivemos hoje é uma das mais dramáticas consequências do modelo de pessoa que a sociedade do bem-estar nos oferece. Uma sociedade construída sobre a base do egocentrismo insolidário e do consumismo compulsivo, geradores de exclusão e injustiça, não pode esperar outra coisa que não seja a violência como recurso, meio ou fim ...

Palestra oferecida em diversos congressos pedagógicos organizados pela empresa Conexa Eventos de Belo Horizonte.