30 de dezembro de 2009

Releitura Natalina do Gênesis.

Há milhões de anos apareceu na terra a primeira célula viva, capaz de existir por si mesma. Não era mais do que um ser microscópico, diminuto, quase invisível, mas suficiente para começar a sonhar com ele. E é que não consigo evitar sonhar cada vez que percebo um alento de vida ...

Este primeiro broto de vida foi-se desenvolvendo, evoluindo, se transformando. Assim foram surgindo toda classe de animais e plantas, a natureza ia tomando forma. Durante milhões de anos eu a acompanhava, a observava e não deixava de me emocionar com suas mudanças e novidades. Não obstante, a natureza, tinha algo que eu não acabava de aceitar.
Sempre sobrevivia o mais forte, o melhor adaptado, enquanto os fracos ficavam no caminho da evolução e desapareciam. Mas, se eles eram os que de mais cuidados e ternura precisavam! Porque a própria natureza os abandonava quando mais desprotegidos estavam? Os grandes engoliam os pequenos, os fortes se esqueciam dos fracos, cada qual preocupado somente de si mesmo.
Alguma coisa não estava bem feita ou, falando melhor, faltava algo… até que apareceu o ser humano.
Com a sua chegada acabei de me encher de felicidade e esperança. Um ser capaz de pensar, de inventar, de transformar o que tinha ao seu redor. Um ser livre, capaz de tomar decisões além das leis da natureza. Um ser capaz de amar. Um ser que podia sentir além do que olhava e tocava, que podia me procurar chamando-me por meu nome. Por fim alguém com quem compartilhar minha vida, a quem me dar a conhecer, a quem amar! O homem e a mulher eram o mais perfeito, mesmo com as suas fraquezas e limitações, que a natureza tinha formado e eu aproveitei a ocasião para colocar nele todo meu amor.
Há muitos milhares de anos que, junto ao homem e à mulher, começamos a fazer historia. Eu tentava que suas decisões foram as mais acertadas, pensando somente na sua felicidade, porque nela estava também a própria felicidade.
Não obstante, o ser humano é duro de entendimento e nem sempre aproveitava todo o amor que eu lhe entregava. Por sua obstinação empenhou-se em fazer as coisas sem me levar em conta e, esquecendo seu Pai, acabavam também esquecendo que eram irmãos.
Por isso, eu não deixava de enviar para eles profetas, que lembravam sempre que o caminho da felicidade não era ser como animais, mas ser plenamente humanos, o que é igual a ser irmãos. Os profetas lhes falavam de justiça, paz, perdão, conversão… mas eles não escutavam… e assim andavam…
Finalmente não tive outra solução que me fazer um deles. Escolhi um casal jovem, simples, bom, como as pessoas das que eu gosto, e por meio deles realizei o que nem eu mesmo pensava que podia se fazer. Meu amor, minha ternura, toda a misericórdia de que sou capaz se fizeram homem numa criança, em Jesus de Nazaré. Há mais de dos mil anos disso, mais eu lembro como si fosse hoje. José e Maria andavam viajando quando chegou o tempo de dar à luz. Bateram muitas portas, mas nenhuma lhes foi aberta. Finalmente procuraram um cantinho escuro, um estábulo, quente pelos animais que havia, aconchegante pelo humilde. Era um lugar tranqüilo, afastado da cidade, no meio da natureza que um dia viu nascer os primeiros homens e mulheres.
Esta vez não era mais um menino que nascia. Esse dia eu me fiz homem, era Deus quem nascia. No começo tive medo. Ser uma criancinha, fraca, necessitada, tão vulnerável e frágil. Mas, se não me mostrava assim, como faria para que até a última e mais pobre das pessoas deparasse em mim e sentisse um pouco de ternura e compaixão, isso que a sociedade fala que não presta porque não produz lucro? No entanto, alguns sim que descobriram que esse menino era especial; na sua pobreza, na sua fraqueza, na sua fragilidade, acharam-me, o Deus que tanto procuravam e de quem o esperavam tudo. Eram os mais pobres, os pastores. Quando chegaram até a gruta onde eu estava, com meu pai José e com minha mãe Maria, tudo encheu-se de alegria. Chegavam cantando, trazendo presentes muito humildes, mas nascidos do mais profundo dos seus corações. E por onde passavam gritavam: “Deus está conosco, nasceu nosso Salvador”.
Quem podia pensar nisso! Foram os marginalizados, os mais pobres, os únicos que souberam me descobrir nesse menino deitado na manjedoura. Como hoje continua acontecendo, os únicos que sabem apreciar de verdade meu nascimento são os pobres e excluídos. Deve ser que a pobreza faz com que tenhamos um coração mais livre para amar, e só quem ama pode me conhecer.
Mas, o verdadeiramente importante, não é que um dia me fiz menino, senão que, desde então, eu continuo a fazê-lo. Meu Filho Jesus, continua nascendo para mostrar o grande amor que lhes tenho, para que conheçam a Salvação que desejo para todos, para que acolhendo Jesus, presente em cada homem e mulher necessitado, conheçam a verdadeira felicidade, a que vem do amor.
Hoje volto a nascer, em cada menino que vem à vida com um futuro incerto, em cada rejeitado por tanta pousada cheia, em cada necessitado de vida. Somente vocês podem me ajudar a nascer! Anunciem com suas vidas e com suas obras que Deus quer nascer e preparem um leito quente nos seus corações! Vão às ruas, porque hoje, estou nascendo em muitos barracos, nalgum beco escuro! Procurem-me e me ajudem a viver! Pode ser que esta seja a sua última chance, a última oportunidade para amar, a última ocasião para me conhecer, a última possibilidade para serem felizes.

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