1 de fevereiro de 2010

"É tempo ainda de amar sem fronteiras"

Com esta frase inicia-se a música "Comunhão da terra", da Missa Cabocla (da banda Raízes Caboclas), e com ela quero começar este comentário, refletindo e partilhando a experiência vivida por mim em Amazonas ...




Pelo terceiro ano consecutivo, no mês de janeiro, participei como assessor do curso de teologia organizado pelo Projeto Teologia Viva de Belo Horizonte e a Diocese de Alto Solimões (Amazonas), com a participação de mais de 60 agentes de pastoral de todas as paróquias e comunidades.
Foram três anos de convivência e profunda fraternidade, nos quais todos nos enriquecemos com a experiência, o pensar e o sentir de cada pessoa. Três anos de aproximação a uma realidade tão complexa e difícil como cativante. Três anos fazendo teologia numa Igreja cabocla, mestiça, popular, pobre economicamente, mas riquíssima em cultura, humanidade e testemunho cristão.
Nesse tempo conheci pessoas simples, profundas, alegres no meio de grandes dificuldades, disponíveis e comprometidas com uma Igreja viva e “em pé de testemunho” como diria Dom Pedro Casaldáliga. Neste tempo em que a Igreja brasileira se debate entre a resistência por manter com vida suas raízes libertadoras e evangélicas, e a tentação de acomodação, ou de concorrência com igrejas pentecostalistas, ou de procura do sucesso comercial... é bom respirar o ar fresco e fiel da Igreja de Alto Solimões. Começando pelo seu pastor, Dom Alcimar, um verdadeiro profeta, um homem claro, profundamente espiritual e, por isso, radicalmente comprometido com a vida digna de seu povo. Todos os dias agradecerei a Deus o presente de sua amizade. E falando de sacerdotes, não posso deixar de reconhecer aqui o apoio incondicional do Pe. Valdemir e a vida doada em cada pequena coisa do Pe. Elias. Mas eles não são nada sem suas comunidades, sem esse povo cristão, caboclo, pobre aos olhos do mundo, mas um tesouro no coração de Deus e da Igreja.
São muitos nomes e rostos que ficarão para sempre gravados no meu diário afetivo. Vocês fazem parte da minha história, da minha vocação e da minha vida. Agora, envolvido de novo nos trabalhos administrativos e pastorais de nossas obras escolápias, entre uma reunião e outra, seus olhares, sorrisos, perguntas, sonhos, preocupações... emergem no meu coração, me levando numa viagem por rios, florestas e igarapés, que alegram minha rotina e alimentam minha esperança: o Reino está surgindo. 
É tempo ainda de amar sem fronteiras, superando distância e tempo... no amor de Deus nos encontraremos todos num eterno abraço de paz, partilhando o tucumã e açaí com farinha, dançando o quatipurú, ou de mãos dadas na luta pela paz e a justiça.
Muito obrigado, Diocese de Alto Solimões. Que Deus continue fazendo de vocês uma bênção para este mundo.