8 de agosto de 2011

Os clamores do mundo

No meio de um mundo em transformação, agitado e convulso, surge em mim uma dúvida que se desdobra e multiplica em mil perguntas e questionamentos. Realmente estamos interessados em conhecer o mundo que habitamos, ou substituímos o mundo real pelo “meu pequeno mundo”, no qual eu (com as minhas preocupações e necessidades) sou o centro gravitacional?
São muitas as tragédias que acontecem a cada dia, algumas vêm se arrastando na história atual, deixando seu rasto de morte e dor; outros são acontecimentos recentes que desestabilizam a ordem estabelecida, perturbando a tranquilidade almejada pelas classes acomodadas do mundo e seus dirigentes. Algumas experiências estão ainda em gestação e nem sabemos no que resultará, mas já estão apontando para um horizonte novo, destacando a possibilidade e a necessidade de pensar o futuro desde outras referências diferentes das usadas até agora.
Quero compartilhar alguns dos acontecimentos atuais que mais pesam na minha consciência mundial, com uma breve descrição e algumas reflexões críticas simples. (Continuar lendo)
A GlobalRevolution, inspirada nos movimentos cidadãos surgidos na Espanha nestes meses como reação à crise econômica e às políticas oficiais implementadas para enfrentá-la. Conhecida com diferentes nomes tais como SpanishRevolution, movimento 15M, Indignados, ela reúne cidadãos em assembléias, acampamentos e marchas nas principais cidades do país com uma mensagem clara: “não somos mercadoria”. Segundo eles os problemas sociais e econômicos que estão vivendo os países ocidentais não têm sua causa na crise, mas no sistema mesmo. Os governos enfrentam a crise aplicando fortes recortes nas políticas e gastos sociais, “democratizando” os custos da crise entre a população que, de fato, já vêm sofrendo as consequências da mesma (desemprego, inflação, bolha imobiliária, juros e hipotecas...). Os prejuízos da crise são socializados, mas nunca foram socializados os lucros das grandes corporações e bancos, verdadeiros responsáveis pela crise. Uma revolta de indignação está enchendo praças e ruas com milhares de pessoas, perpassando gerações, ideologias, religiões, nacionalidades, com uma luta não-violenta em favor de uma democracia real e participativa, que privilegie a sociedade e não os índices econômicos, as pessoas e não os interesses corporativos, a justiça social e não a depredação dos bens públicos por parte de políticos corruptos, profissionais da malandragem. O que começou com um acampamento numa praça de Madri, aos poucos está se espalhando por muitas cidades da Espanha, Europa, América, Oriente Médio... O que resultará de tudo isto, não sabemos, mas o certo é que estamos num momento muito interessante, numa revolta social que reflete o desgaste das classes até agora privilegiadas e que agora sofrem as consequências de políticas econômicas desumanas e enganadoras. O desgaste dos países que foram colocados como modelo de progresso econômico e político. Talvez o fim de um sistema que, no meio da crise, tenta se sustentar e reerguer a qualquer preço.
A insurreição civil nos países árabes contra governos quase ditatoriais e seus exércitos. Alguns países já não serão mais o mesmo, como o Egito e a Tunísia. Outros continuam envolvidos em fratricidas guerras, alimentadas pelos países representantes da verdadeira democracia e da liberdade, que nunca tiveram problema para comprar e vender favores, amizades e alianças, como acontece na Líbia. E outros países envolvidos em sangrentos conflitos, sofrendo igualmente as consequências de regimes autoritários e corruptos, com povos reprimidos com força brutal e desproporcionada, são intencionalmente ignorados por esses mesmos representantes da democracia e da liberdade, é o que aconteceu com o Bahrein, Iêmen, e agora chega a limites escandalosos na Síria.
Dramática é a situação da população de Somália, no meio de uma guerra entre a milícia islâmica radical de Al Shabab e as tropas de um governo inexistente depois da saída do último ditador, apoiados pelas tropas da União Africana, representando a democracia e a liberdade (e garantindo os interesses dos países ocidentais nessa região estrategicamente tão importante). A seca prolongada, décadas de guerra, milhões de refugiados e uma consequência terrível: a pior crise alimentar desde os anos 90, quando a fome assolou o país. Vinte e nove mil crianças já morreram de fome só nos últimos três meses e a ajuda humanitária internacional não chega por culpa dos conflitos armados. A seca não é a causa primeira desta situação, mas o detonante final de uma história de exploração, devastação colonialista, guerras entre blocos ideológicos, conflitos religiosos, etc. Onde estão os responsáveis? Talvez lucrando mais uma vez com suas campanhas “humanitárias”.
E a Noruega nos surpreendeu! Triste surpresa quando uma pessoa decide, por motivações ideológicas e religiosas, assassinar 93 pessoas. Um fanático religioso, um extremista racista e misógino, que se achava um cavaleiro templário lutando em nome de Deus, vingando as políticas tolerantes com muçulmanos, ciganos, negros e pobres em geral. Um homem mais inteligente que os outros, um visionário que intuiu o que os demais não podem ou não querem ver: que neste mundo não há espaço nem futuro para todos, por isso as raças superiores devem eliminar, excluir, isolar todos aqueles que ameacem a salvação do “povo eleito”. Um louco ou simplesmente o resultado de uma sociedade egocêntrica e materialista? Uma sociedade fundamentada no consumo ilimitado de uns poucos privilegiados, à custa de uma maioria esquecida que paga com sua miséria os excessos da minoria e que, agora, é vista como ameaça para o bem-estar alcançado.
E o que dizer dos conflitos que se perpetuam no tempo, transformando o que era uma “guerra preventiva” em um estado de guerra permanente? Quantos inocentes pagaram com suas vidas o desejo de vingança de um estado que quando quis, brincou com a violência no mundo todo? Quantos sofrem até hoje com as mudanças arbitrárias na política internacional dos Estados Unidos e seus aliados? Poderíamos fazer uma lista enorme com os nomes de pessoas ou grupos que foram treinados, protegidos, armados e financiados pelos diferentes governos norte-americanos que, em um determinado momento, se transformaram em inimigos da liberdade e dos direitos humanos, em terroristas sanguinários e desestabilizadores das democracias, da paz e da ordem mundial. O caso mais claro e conhecido é o recentemente executado Osama Bin Laden, mas poderíamos citar tantos... Iraque e Afeganistão continuam lotando os jornais com ataques, atentados, mortos e sofrimento. Quando na história da humanidade a violência resolveu um só conflito? Não aprendemos porque não nos interessa aprender.
Este é o mundo que temos. Poderíamos continuar com outros conflitos e situações dramáticas que acontecem a cada dia. A minha preocupação continua sendo a mesma: tudo isso tem alguma coisa a ver comigo? Sinto-me parte deste mundo, me afeta o que nele acontece? Interesso-me por compreender as causas e consequências dos acontecimentos ou sou um simples espectador?

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