31 de dezembro de 2012

O eco


Uma história nas costas
Um sonho na pupila
Um germe no coração

Esforço cotidiano
Esperança semeada
Confiança oferecida

Gritos compartilhados
Lamentos reprimidos
Ofensas digeridas

Murchou-se a flor da manhã
Uma geada estéril tomou conta
As estrelas tornaram-se noite

Para que continuar cantando
Para quem espalhar meus versos
Se afinal somente o eco me responde?

24 de dezembro de 2012

Grávido


Como tornado imprevisto
Agitando meu interior
Como criança ansiosa
Abrindo caminhos para nascer

Como vulcão impetuoso
Expelindo o coração do mundo
São os sentimentos que me dominam
Contorcendo cruelmente minha vida

Grávido
Estou grávido
Inesperadamente
Assustadoramente

Fiquei grávido da Utopia
Essa senhora sempre nova
Que me seduz e encanta
Com ilusões palpáveis

Engravidei sem duvidar
Puxado pelo coração amante
Num fervilhar de sonhos possíveis
Arrebatado pelo céu vindouro

E quando a criatura se formava
Surgiu a palavra indesejada
E afastou-me da vida que tecia
Condenando-me à solidão fecunda

Agora estou grávido de angústia
Pelas sendas não percorridas
Pelas ideias não semeadas
Pelos sonhos que fugiram

Estou grávido de tristeza
Por tanta semente sem germinar
Por tanto esforço sem futuro
Por tanta herança não repartida

Estou grávido de raiva
Pelas lutas em que me envolveram
Por sofrer o destino dos dissidentes
Por ter que extinguir este amor gestante

17 de dezembro de 2012

Advento


Arrancarão do coração o sonho
E a vida se esvaziará sem sentido
Pausadamente
Inexoravelmente

Chegarão lógicas e explicações
Mas a dor não sabe de raciocínios
Terrivelmente
Inevitavelmente

Afastarão a seiva que me nutre
Transformando-me em terra ressequida
Solitariamente
Inexplicavelmente

Arrastar-me-ão como bicho desprezível
Arrebatando-me o sangue que me ergue
Sigilosamente
Impiedosamente

Mas ressurgirei da vergonha e do fracasso
Proclamando aos ventos o que amo
Irredutivelmente
Agradecidamente

10 de dezembro de 2012

Dolorosas obviedades


A flor murcha
Quando a raiz adoece

O medo impera
No coração atribulado

A razão se desvanece
Com cada palavra que fere

A esperança definha
Quando o orgulho governa

As sombras festejam
Quando o sol declina

A angústia congela
As asas dos sonhos

A noite se alastra
Obrigando o dia a fugir

O amor é uma frágil pena
Sacudida pela soberba

3 de dezembro de 2012

Condenados


Como onda violenta
Que arrasta o fundo
E faz borbulhar a pele

Como tornado repentino
Que arrasa a superfície
E arranca pela raiz a vida

Como tempestade de verão
Que engole a luz do dia
E transforma o céu em mar

Assim são a raiva e a impotência
Que habitam no coração ferido
Quando a mentira e a ofensa
Tomam conta do mundo
Afastando-nos dos sonhos
E condenando-nos ao pranto