24 de dezembro de 2012

Grávido


Como tornado imprevisto
Agitando meu interior
Como criança ansiosa
Abrindo caminhos para nascer

Como vulcão impetuoso
Expelindo o coração do mundo
São os sentimentos que me dominam
Contorcendo cruelmente minha vida

Grávido
Estou grávido
Inesperadamente
Assustadoramente

Fiquei grávido da Utopia
Essa senhora sempre nova
Que me seduz e encanta
Com ilusões palpáveis

Engravidei sem duvidar
Puxado pelo coração amante
Num fervilhar de sonhos possíveis
Arrebatado pelo céu vindouro

E quando a criatura se formava
Surgiu a palavra indesejada
E afastou-me da vida que tecia
Condenando-me à solidão fecunda

Agora estou grávido de angústia
Pelas sendas não percorridas
Pelas ideias não semeadas
Pelos sonhos que fugiram

Estou grávido de tristeza
Por tanta semente sem germinar
Por tanto esforço sem futuro
Por tanta herança não repartida

Estou grávido de raiva
Pelas lutas em que me envolveram
Por sofrer o destino dos dissidentes
Por ter que extinguir este amor gestante

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