26 de maio de 2013

Semeando nas nuvens

Olho o céu e canto
Elevando acordes improvisados
Notas sinceras que nascem 
No mais profundo
Deste coração boêmio

Pelo dia canto às nuvens
Aos passarinhos errantes
Aos ventos indiscretos
E aos reflexos do sol irmão

De noite canto às estrelas
Às sempre presentes sombras
Aos sonhos que o sol arrastou
E à lua minha sugestiva amiga

Olho o céu e canto
Semeando notas em cada nuvem
Ocultando nomes em cada estrela
Adivinhando vozes na suave brisa
Intuindo rostos no céu eterno

18 de maio de 2013

Grita


Grita e não cales mais
Grita teu nome
Tua raiva
Tua impotência

Grita e não pares mais
Até derrubar os gelos
Que envolvem e protegem
O coração dos indiferentes

Grita e não aceites mais
A humilhação de tua raça
A miséria de tua vida
O esquecimento obrigado

Grita sem cessar
Até arrebentar o coração
Deste mundo surdo
Grávido e expectante

11 de maio de 2013

A pé


A pé, sempre a pé
Arrastando a vida
Por trilhas empoeiradas
E veredas sombrias
Empurrando a esperança
de alcançar algum destino
Que faça merecer um dia
Tanto esforço realizado

A pé, de novo a pé
Carregando o mundo
Em meio a pedras e feridas
Por cima de espinhos e prantos
Resistindo o frio manhaneiro
Aturando a solidão eterna
Sem mais suor que o sangue
Vertido pela fé dilacerada

A pé, eternamente a pé
Com o olhar perdido
Em um horizonte impossível
Açoitado pelos ventos atrozes
Semeando silenciosamente 
O cansaço acumulado na alma
Derramado em cada passo 
De uma esfomeada sombra

A pé, infatigavelmente a pé
Acordando com a lua
Viajando com as estrelas
Alimentando-se do tempo
Procurando no infinito
O que foi negado na história
Até o dia em que o sol anuncie
Que o dia contigo é mais dia

6 de maio de 2013

Meio-dia


Está chegando o meio-dia
Foi-se embora o vigor inicial
O momento de acometer aventuras
De acordar entusiasmado
De aproveitar o frescor 
E a luz nascente

Está chegando o meio-dia
Quando o sol se torna um peso
E já não mais desperta o ânimo
Quando o cansaço acumulado
Anda a procura de uma sombra
Onde reencontrar a esperança

Está chegando o meio-dia
E as aves já não cantam risonhas
Anunciando que a vida germina
Agora o silêncio impera no deserto
Os sonhos se abrasam calmamente
Enquanto o sol declina inevitável

1 de maio de 2013

Imenso e inocente


Seu olhar imenso e inocente
Como se o universo completo
Estivesse concentrado nele
Como se um oceano profundo
Inundasse cada uma de suas pupilas
Como se toda a história
Pudesse ser compreendida na sua luz
E no seu silêncio interpelador
Um interrogante imperioso:
- Quais as tuas intenções?

No seu olhar
Imenso e inocente
Uma eternidade de frustração
Promessas descumpridas
E sonhos abandonados

Através do seu olhar
Imenso e inocente
Uma esperança que não morre
Um futuro que nos aguilhoa
Uma terra que nos suplica